domingo, 9 de fevereiro de 2014

Lembranças

Exaurida

Volto no tempo e nos lugares em que fomos felizes, e nada resta, a não ser os vultos, os espectros daquilo que fomos, e os vãos, os buracos, os espaços vazios de tudo que um dia fomos e sonhamos, só abismo, só silêncio, só silêncio e morte.

Me ultrapassei nesse sentimento, fui além de mim, além de onde eu deveria ir. Mas como saber onde parar, se perdi a noção de medidas? Não tenho mais para onde ir.

Ligo o rádio porque não quero me escutar, prefiro ouvir qualquer outro barulho, qualquer coisa me afaste de você, que me leve para bem distante de tudo o que sinto. Que me esvazie que me esprema e que transforme vísceras e sangue, em vento ou nuvem, e carregue para bem distante daqui.

Não quero mais os espasmos do mundo; não quero mais nem antes, nem depois; não sei bem o que sou ou o que sinto agora. Tudo é contradição, ora fogo, ora solidão; ora dor, ora emoção. Coisas que não sei dizer.
Estou exaurida. Estou esgotada. Quero dormir e acordar daqui a dois mil anos.
Olinda, XXXI - I - MMXIV
Texto Canto da Boca 06/02/2014
http://cantodaboca.blogspot.pt/

1 comentário:

Canto da Boca disse...

Uma belíssima camélia, deu até outro sentido ao meu texto, Carlos, muito obrigada pela deferência! Uma grata surpresa!

;))